Prelúdio 18, Marc Strauss

Trivialidade extrema ou avanço do real?

Este sujeito evocou primeiramente o seu pai, homem de uma inteligência admirável, mas que bebe além do razoável: um alcoólatra; em seguida, falou da sua amada, também de uma inteligência admirável, mas que come além do razoável: uma bulímica. Convidado, então, a dizer o que ele mesmo fazia além do razoável, ele respondeu: “Eu me masturbo”. Questionado, enfim, sobre quem pensa dessa maneira, ele concluiu meio desamparado: “Bem, eu né…?!”

Verifica-se aí que, para ele, como para todos, o “Eu” que faz e o “eu” que diz, embora indissociáveis, nem sempre estão de acordo sobre o que é ou não razoável. Será que é aí que está aí o paradoxo do desejo, como ponto de impasse obrigatório em todas as histerohistórias[1], de que nada podemos fazer de melhor a não ser contá-las a nós? Um paradoxo, com que, afinal, seria melhor que nos resignássemos, para que o manejássemos com mais astúcia.

Ou será que essa inquietude pode ser o início de uma saída diferente para a análise, em que a causa do desejo se reconhece na singularidade absoluta de sua realidade de dejeto? Se o efeito já não é mais de gozouço-sentido[2], a relação do analisante ao desejo está mudada. Aonde isto o conduz? Por outro lado, será que não há um outro paradoxo em querer, ele mesmo, ocupar este lugar de analista-rebotalho? Lacan responde a essas questões com o benefício de uma mudança no status do saber, aligeirado com a parte de riso que lhe retorna (cf Televisão, com o gaio saber[3] e “Quanto mais somos santos, mais rimos…”).

O tema do Encontro que se aproxima nos permitirá o intercâmbio de nossos pontos de vista sobre a psicanálise, que começa pela análise dos sintomas, estes paradoxos do desejo tão difíceis de suportar, para chegar a fundamentar o desejo do psicanalista de modo razoável[4]. Acrescentaremos, assim, à satisfação que liberamos no sujeito, desatando com determinação os seus sintomas, o prazer de prosseguirmos juntos nos desdobramentos desta determinação.

Versão brasileira: Vera Pollo


[1]No original: hystoires, condensação de histoire, história, e hystérie, histeria.

[2]No original: joui-sens

[3]No original: gay sçavoir, referência à poesia dos trovadores, na qual se condensam as palavras savoir, saber, e ça, isso.

[4]Procuramos seguir o deslizamento do texto desliza de “plus que de raison”, além do razoável, expressão empregada duas vezes no primeiro parágrafo, para “en raison”, conforme à razão, raciocinável, também empregada duas vezes, no segundo e no último parágrafos.

Repercussão 5, Pierre Meunier

“O homem que sabe como fazer falar um objeto…”

Pierre Meunier é um escultor, autor e cenógrafo de um tipo particular… Ele constrói seus espetáculos mais frequentemente a partir de objetos inertes, de materiais brutos com os quais ele faz, por meio da sua escrita e da originalidade da sua encenação, os verdadeiros parceiros dos atores no palco. Buscando nos fazer penetrar em seu encantamento pela estranheza destas presenças tão estimulantes para o seu imaginário, ele suscita no espírito do espectador um conflito poético, um devaneio íntimo.
Seu percurso atravessa o circo, o cinema e o teatro.

Na sequência das entrevistas com os não psicanalistas sobre “Paradoxos do desejo”, tema do nosso próximo congresso, Cathy Barnier e Marc Strauss o encontraram.

www.labellemeuniere.fr

Prelúdios, tradução grega – ΠPEΛOYΔIO

– επιχείρημα

– Les paradoxes du désir-Tα παράδοξα της επιθυμίας 1-10, 17

– Les paradoxes du désir-Tα παράδοξα της επιθυμίας 11-20

Skaraki Ioanna, Moriati Stylianos, Kommata Liliane, Brati Dionissis, Nikolaidou Margarita, Dimoula Fani, Visviki Ioanna, Katsani Georgia, Baniokos Giorgos, Koukoumaki Maria, Tsioli Maria